A de amor

Quando criança conheceu as letras. E lhe ensinaram que com elas podia-se formar qualquer palavra do mundo. Palavras que podiam representar qualquer coisa. Qualquer um que lesse a palavra, entenderia a mensagem. E foi então que ela se apaixonou.
Como podiam simples letrinhas organizadas representar qualquer coisa? Borboleta no céu. Flor aberta. Fruta docinha que escorre caldinho pelo canto da boca. Poderiam representar aquela dorzinha na barriga no final da tarde quando a mãe chamava pra jantar ou o peso nos olhos a noitinha quando terminava a novela e era hora de ir pra cama.
Naquele dia ela sonhou com letras felizes e saltitantes, brincando de roda, de mãos dadas e formando palavras. Riso. Sonho. Chuva. Calor. Escola. E sorria movendo-se na cama como se dançasse junto com as letrinhas.
E anos mais tarde foi para a escola pela primeira vez. O caderno impecável e os lápis cuidadosamente apontados. Ela já sabia ler e escrever tamanha a paixão que tinha pelas letras. E foi na escola que ela conheceu algo novo: que as palavras podiam cantar sem serem músicas. Aprendeu a rimar. Sol com girassol. Flor com beija-flor. Pomar com cantar. E nesse dia ela começou um jogo secreto onde ela via algo pelo caminho e pensava na palavra escrita com letra de mão bem desenhada e em seguida numa rima.
E desde essa época ela mantinha essa paixão pelas palavras. Plantou-as como se fossem sementes. Cultivava com literatura e gramáticas. Regava com pinceladas de língua estrangeira. Quis conhecer a origem de tudo, o radical e o prefixo. Fez frases complexas e completas, abusou de verbos, adjetivos e advérbios.
Numa tarde nublada, que as nuvens começavam a derramar pingos d’água que mais lembravam lágrimas, as palavras se multiplicaram e deram um lindo fruto: o primeiro poema dela.

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6 comentários sobre “A de amor

  1. venho ler o texto depois… meus olhinhos estão cheios de areia de tanto sono!rs… só passei pra te dizer uma coisa… sabe quem saiu perdendo? ele.
    é assim, amiga… a gente não pode ter tudo que quer… e talvez vc quisesse justamente pq não estava tendo… daí essa teimosia que a gente acaba dando outro nome, tipo interesse, paixão…etc…etc…
    só posso te dar um conselho amiga: a fila anda… ou melhor… voa!
    ps: se precisar de um ombro amigo virtual tô aqui, tá? é só mandar email que a gente marca de conversar.

    FORÇA!!!!!!
    beijocassssssssssssssssssssssssssssssssss.

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  2. Não tem como deixar de me ver nesse conto.
    Ainda hoje, relembro meus tempos de infância,
    quando brincava de escrever no ar.
    E tinha gente que achava que era loucura.
    E eu acho que era mesmo.
    Lindo o seu conto.
    Beijos
    PS: Adorei que vc voltou

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  3. A dúvida de Clarinha

    Clarinha, minha filha, aproxima-se,
    Inquieta, preocupada,
    E me solta a pergunta
    Intrigante, assustadora:
    – Papai, a professora me disse que quando se fecha um livro as letras se embaralham.
    É verdade?

    Maldita professora!
    Malditos poetas!
    Como sair dessa?
    Pesquiso a memória
    E acho a solução:
    – Bem, querida, quando se fecha um livro ele dorme.
    Mas basta abri-lo
    Para que tudo volte ao normal…

    Ela me encara.
    Duvida a princípio,
    Contenta-se em seguida,
    Convence-se finalmente,
    E vai embora sorrindo…

    Benditos poetas…

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