Lugar bonito

Na minha memória – já tão congestionada – e no meu coração – tão cheio de marcas e poços – você ocupa um dos lugares mais bonitos.

– Caio F. Abreu

Trecho da carta extraída do livro “O que importa em Oracy”,
organizado por Fátima Friedriczewski,

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Sossega

A solidão às vezes é tão nítida como uma companhia. Vou me adequando, vou me amoldando. Nem sempre é horrível. As vezes é até bem mansinha. Mas sinto tão estranhamente que amor acabou. [.. .] Repito sempre: sossega, sossega — o amor não é para o teu bico.

Caio Fernando Abreu in “Carta a Jacqueline Cantore”

Foi a primeira vez

Neste momento, estou todo arrepiado e com muita vontade de chorar. É como se ouvisse outra vez, escondido em meu quarto, com o cheiro forte de um jasmineiro ali embaixo, os discos de música erudita que você ouvia muito alto. Até hoje penso que seria Beethoven ou quem sabe Wagner. Era algo muito vibrante. Foi a primeira vez que ouvi música erudita. Foi a primeira vez que eu soube que existiam poetas. Tudo isso me toma agora de novo e é tão mágico que quero agradecer a você a lembrança – deus, tão remota e ao mesmo tempo tão dilaceradamente viva.

– Caio F. Abreu

Trecho da carta extraída do livro “O que importa em Oracy”,
organizado por Fátima Friedriczewski,

Vibração de silêncio

Nunca nos falamos, praticamente, nunca nos olhamos. Ficou só aquela vibração de silêncio, muito forte.

– Caio F. Abreu

Trecho da carta extraída do livro “O que importa em Oracy”,
organizado por Fátima Friedriczewski,

Tão Secreta

Numa cidadezinha perdida, dois malditos que se reconhecem nem que seja necessário sequer falar sobre isso. Uma cumplicidade muda, e tão secreta que, penso, talvez você nunca tenha percebido.

– Caio F. Abreu

Trecho da carta extraída do livro “O que importa em Oracy”,
organizado por Fátima Friedriczewski,

Reinicio da nossa amizade

Gostaria que você me falasse da sua vida aí, dos seus sonhos, da sua – imagino – grande solidão. (…) e espero que esta carta, que me está saindo longa demais, sirva como reinício da nossa amizade, tão profunda e tão antiga.

– Caio F. Abreu

Trecho da carta extraída do livro “O que importa em Oracy”,
organizado por Fátima Friedriczewski,

Não é saudade

No meio da tensão e da corrida que é sempre esta cidade, foi qualquer coisa como um sopro de ar fresco, um gole d’água, qualquer coisa assim. Não é saudade, porque para mim a vida é dinâmica e nunca lamento o que se perdeu – mas é sem dúvida uma sensação muito clara de que a vida escorre talvez rápida demais e, a cada momento, tudo se perde.

– Caio F. Abreu

Trecho da carta extraída do livro “O que importa em Oracy”,
organizado por Fátima Friedriczewski,

Talvez o tempo traga

“…eu queria tanto conhecer alguém. Talvez o tempo traga uma pessoa, uma pessoa especial. Talvez eu resolva isso aos poucos, sem sentir, depois de resolver a mim mesmo. Talvez eu esteja demasiado perto da adolescência ainda – dentro dela, até – e seja difícil, por enquanto, me libertar de todas as idiotices que ouvi.”

– Caio F. Abreu in Limite Branco

Essa ternura

“Não sei como me defender dessa ternura que cresce escondido e, de repente salta para fora de mim, querendo atingir todo mundo. Tão inesperada quanto a vontade de ferir, e com o mesmo ímpeto, a mesma densidade. Mas é mais frustrante. Sempre encontro a quem magoar com uma palavra ou um gesto. Mas nunca alguém que eu possa acariciar os cabelos, apertar a mão ou deitar a cabeça no ombro. Sempre o mesmo círculo vicioso: da solidão nasce a ternura, da ternura frustrada, a agressão, e da agressividade torna a surgir a solidão. Todos os dias o ciclo se repete às vezes com mais rapidez, outras mais lentamente. E eu me pergunto se viver não será essa espécie de ciranda de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre sede no fim.”

– Caio F. Abreu in Limite Branco

Coisas que são só minhas

“Porque as coisas e as pessoas que fazem parte da minha vida vão aos poucos entrando em mim, depois de algum tempo já não sei dizer o que é meu e o que é delas. Mesmo assim, bem no fundo, há coisas que são só minhas. Embora me assustem às vezes, é delas que mais gosto.”

– Caio F. Abreu in Limite Branco