Ano Novo

E agora falta quase nada pra gente abraçar a ilusão de que tudo vai ser novo. Que seja mesmo, especialmente pra você.

– Martha Medeiros in “Doidas e Santas”

Publicidade

Eleição

Você já passou por tantas eleições pessoais: escolheu sua profissão, a cor do seu cabelo, o nome que seus filhos têm, o time para o qual torce, a roupa que está usando bem agora. Quem é que está no comando? Ora. Faça o que bem quiser deste seu dia e dos dias que virão. Votar é obrigatório, mas viver é muito mais.

Martha Medeiros in “Doidas e Santas”

Vai

Entre sobreviver e viver há um precipício, e poucos encaram o salto. Encerro esta crônica com dois versos que não são de Vinicius, e sim de uma grande poeta Chamada Vera Americano, que em seu novo livro, Arremesso livre (editora Relume Dumará), reverencia a mudança. Não te acorrentes/ ao que não vai voltar, diz ela, provocando ao mesmo tempo nosso desejo e nosso medo. Medo que costuma nos paralisar diante da decisão crucial: Viver/ o u deixar para mais tarde.
O poeta espalmaria sua mão direita nas nossas costas (a outra estaria segurando o copo) e diria: vai.

– Martha Medeiros in “Doidas e Santas”

Um degrau acima

E a beleza nunca está nas mesquinharias e infantilidades. A beleza está sempre um degrau acima.

– Martha Medeiros in “Doidas e Santas”

Casamento

É amar o outro nas suas fragilidades e incertezas. É aceitar que uma união é para trazer alegria e cumplicidade, e não sufocamento e repressão. É ter noção de que a cada idade estamos um pouquinho transformados, com anseios e expectativas bem diferentes dos que tínhamos quando casamos, e quem nos ama de verdade vai procurar entender isso, e não lutar contra. Sendo aberto nesse sentido, o casal construirá uma relação que seja plena e feliz para eles mesmos, e não para a torcida.

– Martha Medeiros in “Doidas e Santas”

Amor único

Danielle Mitterrand diz o seguinte: “Achar que somos feitos para um único e fiel amor é hipocrisia, conformismo. É preciso admitir docemente que um ser humano é capaz de amar apaixonadamente alguém e depois, com o passar dos anos, amar de forma diferente.” E termina citando sua conterrânea, Simone de Beauvoir: “Temos amores necessários e amores contingentes ao longo da vida”.

– Martha Medeiros in “Doidas e Santas”

Cotidiano

Poesia serve exatamente para a mesma coisa que serve uma vaca no meio da calçada de uma agitada metrópole. Para alterar o curso do seu andar, para interromper um hábito, para evitar repetições, para provocar um estranhamento, para alegrar o seu dia, para fazê-lo pensar, para resgatá-lo do inferno que é viver todo santo dia sem nenhum assombro, sem nenhum encantamento.

– Martha Medeiros in “Doidas e Santas”

Café do próximo

Foi em Praga, na República Tcheca, que surgiu o hábito do “café pendente”. Tudo
começou com o personagem de um livro. Ele entra num bar, toma um café e, quando vem a conta, ele paga dois, explicando pra garçonete: “Pago o meu e deixo um pendente”. Inaugurou-se assim o costume de se deixar pago dois, para o caso de surgir alguém sem trocado para um cafezinho. A Livraria Argumento, do Rio, que tem em suas dependências o charmoso Café Severino, adotou esse esquema, rebatizando-o de “café do próximo”. Colocou um quadro-negro na entrada e ali vai anotando todos os cafés pendentes do dia, aqueles que já foram pagos. Às vezes tem dois, às vezes três, às vezes nenhum. Quem chega sem grana e vê ali no quadro que há um café pendente, pode pedi-lo sem constrangimento. Quando voltar outro dia, com dinheiro, poderá, se quiser, pagar dois e retribuir a gentileza para o próximo desprevenido. E assim mantém-se a corrente, e ninguém fica sem café.

– Martha Medeiros in “Doidas e Santas”

Combinação

Certa vez li (não lembro a fonte) que felicidade é a combinação de sorte com escolhas bem feitas. De todas as definições, essa é a que chegou mais perto do que acredito. Dá o devido crédito às circunstâncias e também aos nossos movimentos. Cinqüenta por cento para cada. Um negócio limpo.

– Martha Medeiros in “Doidas e Santas”

Coitado do amor

Coitado do amor, é sempre acusado de provocar dor, quando deveria ser reverenciado simplesmente por ter acontecido em nossa vida, mesmo que sua passagem tenha sido breve. E se não foi, se permaneceu em nossa vida, aí é o luxo supremo. Qualquer amor merece nossa total indulgência, porque quem costuma estragar tudo, caríssimos, não é ele, somos nós.

Martha Medeiros in “Doidas e Santas”