Soube hoje do falecimento de um querido professor, de Filosofia e Política.
Eu, que vinha de exatas, não podia imaginar o quanto são transformadoras essas matérias, juntamente com Sociologia. São elas que nos preparam para entender o ser humano, e em consequência, aplicar o direito.
As aulas desse professor eram muito lúdicas. As vezes ele sentava no parapeito da janela ou sentava-se na mesa como quem senta no chão, com as pernas cruzadas. E de um salto, ele descia ao chão. Era um susto e uma gargalhada!
Tinha o péssimo hábito de fumar e de lembrar da ditadura militar, quando ele estudava na USP. Então já sabem né…
Também tinha um jeito meio maluquinho de encontrar a gente no corredor e conversar como se soubesse quem a gente era. As vezes eu acho que ele sabia, as vezes tenho certeza que não. Era seu jeito gentil de não dispensar uma conversa.
Suas aulas foram transformadoras para mim.
Toda semana eu entrava na aula uma pessoa, e saía outra totalmente diferente. Porque também suas aulas já não eram a mesma da semana anterior.
Saímos da caverna, desmontamos e remontamos uma cadeira.
Descobri que os filósofos ainda existem, que não é “coisa de antigamente”.
Li o livro “O mundo de Sofia” por causa dele. Não que ele tenha recomendado, mas me inspirou. E achei divertido quando fui, toda contente, contar que o havia lido e ele apenas assentiu. Não houve discussão, nem descobertas. Ninguém citou frase alguma. Era como se fosse um segredo de uma sociedade secreta. Não a sociedade dos que não leram o livro, mas a dos que leram, se decepcionaram e não querem mitigar o sonho.
Não podia deixar essa data passar em branco.
Porque eu sou grata, imensamente grata.
Do lado de fora da caverna é até mais assustador, mas é bem mais bonito também.