Conta uma lenda da tradição sufi, que um homem fora condenado injustamente e colocado diante de um júri. Muitas coisas contavam contra ele, principalmente a indiferença daquele que iria julgá-lo. Quando o juiz perguntou o que tinha a dizer em sua defesa, o homem respondeu:
– Sou inocente!
Pois bem, disse o juiz, falam por aí que és um sábio. Vou dar-lhe a oportunidade de provar sua sabedoria e absolver a si mesmo. Escreverei em dois pedaços de papel os veredictos. Num pedaço de papel vou escrever inocente e no outro culpado e vou colocá-los sobre a mesa. Você usará sua sabedoria e escolherá um. Assim o veredicto dependerá de sua escolha.
Os presentes acharam justa a decisão do juiz. O que eles não sabiam é que o juiz escreveria culpado nos dois pedaços de papel. E assim foi feito.
O juiz colocou os dois pedaços sobre a mesa e pediu ao homem que escolhesse um e que este seria o seu veredicto, escolhido por ele mesmo.
O sábio homem percebendo algo estranho no juiz que não lhe inspirava confiança, pegou um dos pedaços de papel, enfiou-o na boca e engoliu.
O juiz, atônito, perguntou:
– O que é isso? O que fizeste? Como vamos saber agora o que estava escrito no papel que você engoliu?
O homem respondeu:
– Reconhecendo a grandiosidade de meu julgador, basta abrir o papel que restou sobre a mesa e lê-lo, uma vez que em um estava o veredicto de culpado e no outro o de inocente. Bastará ler o que restou e saberemos que engoli o veredicto contrário do que engoli. Se estiver escrito inocente, então sou culpado e, se no papel que restou estiver culpado, então engoli aquele que me inocenta.
Conta a lenda que o homem foi absolvido de todas as acusações.