Ela se chamava Solidão e flertava um certo João. Ele passava em sua rua todos os dias, e ela no portão. Ele acenava, ela estremecia. Ele sorria, ela corava. Ele lhe divertia, ela gargalhava.
Ela não pode conter-se numa tarde, em que ele veio trocar meia dúzia de palavras e lhe tocou na mão. Combinaram um passeio na pracinha, pra confirmar o flerte. Foram, tomaram sorvete. Um sonho de tarde. Se despediram num suspiro duma possível união.
Mas em sua casa, um pacote a esperava. O carteiro veio trazer-lhe a denúncia. Num pacote enfeitado, de letra dourada, laço de fita, a prova da traição. Uma calcinha vermelha, tão pequena que cabia inteira na palma da mão, e junto dela um bilhete de seu João: “Não sendo comestível, achei q quisésse de volta”.
Então ela entendeu, que o presente em sua mão era de sua vizinha Traição.
Malditos, salafrários… Abriu o armario do banheiro… Acabaram com sua ilusão… Abriu o pote de remédios… Ela que achou que deixaria de ser sozinha, ficou marcada a pobre Solidão… Tomou um comprimido… Vagabunda que se dizia sua amiga… Um segundo comprimido… João maldito que se fazia namorado, era no fundo um tarado… Terceiro comprimido… Então ela pode ver na água da privada, os dois juntos em perversão. Ele peludo, ela pelada, os dois juntos em cavalgada. Ele penetrando nela profundo, duro, grosso. Ela gritando nomes sujos, os dois suados, grudados, molhados. Ele bate nela, e ela gosta, pede mais. Ela arranha ele e ele a aperta mais. Ele goza na boca dela e escorre pela queixo dela. A conta já perdida… É possível ouvir as gargalhadas. Ele a penetra onde dá e onde não poderia, mas ela é vagabunda, permite. O cheiro é de perfume barato, tem moscas no ar. Os dois na lama gemendo, mordendo, batendo, dando, gritando, comendo. Os cabelos puxados, o movimento não pára. É de quatro, de frente, de lado, de cima, de baixo e volta a lamber. Cadela, cavalo. Orgia. Ele espreme o peito dela nas mãos ela grita de dor, mas ele gosta e se satisfaz. Outra gozada no corpo dela. Galinha, canalha. E os dois deitados num… vômito? Vômito! Aaargh!!!
Ela nem viu a ambulância, nem se estava vestida para a ocasião. Foi levada ao hospital, a irmã a achou jogada no chão do banheiro com um vidro de remédio vazio preso em sua mão. Ficou uns dias internada, após a lavagem estomacal. A tal vizinha até veio visitá-la. Dizia estar de casamento marcado com o tal João. E depois desse dia, a moça triste, passou a chamar-se Decepção.
***
Decepção é uma moça intrigante, dizem que ela já foi Solidão, mas como pode alguém tão falante um dia ter vivido na escuridão ? Ela criou nova vida nas páginas da ilusão, se aproveita de sonhos e os converte em canção.
Dias desse estava ela, atrás de óculos de grau, lendo um romance ideal, tomando um café em Paris. O rapaz lhe admirou as pernas nuas, ela sentiu a queimação. Franziu a testa e pensou consigo, seria uma alucinação? Ele se apresentou a ela, e ela o chamou Perdão. Mal fadada sina dela, e quase se entregou a paixão.
O rapaz foi embora e deixou cair uma carta no chão. A carta era de Madeleine, adepta da prostituição. Ela doente de ciúmes reclamava de uma transa mal dada, numa noite de verão.
Logo ela entendeu que em sua vida poderia até mendigar alguns carinhos, mas jamais seu coração sozinho se permitiria amar. Decepção é vacinada, em seu corpo ficou tatuado as marcas da solidão. Ela vive isolada, no canto, calada, querendo ser apagada da mente de quem nunca prestou atenção. Ela se esconde atrás de máscaras, e fantasia a realidade.
E hoje, os que ouvem falar nela não sabem que na verdade, ela se auto denomina Desilusão.
Nossa, bom demais esse conto. Meus parabéns 🙂
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Muito lindo esse conto! ^^ Você escreve mto bem!
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um belo conto!…que não leva em conta que ném sempre a desilusão existe por causa dos erros dos outros,na maioria das vezes quem se ilude somos nóis mesmos,tentando criar uma ideia medilcre de exclusividade vivencial em relação ao nosso parceiro,somos todos medilcres por desejarmos ser tudo de alguém que nasceu sem nada, e criou seu tudo na vida, vivendo e aprendendo a cada minuto…se a vida deseja-se que os seres humanos vivecem dependendo de alguém para existir,pq nós aprenderiamos a andar?…seria bem melhor ser carregados no colo eternamente?…sofrer também é bom,desde q se aprende com esse sofrimento.
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